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Cinco riscos para se levar em conta em 2023

Foto do escritor: Núcleo de NotíciasNúcleo de Notícias

Questões críticas

O ano de 2023 promete riscos elevados para o mercado nacional e internacional com as guerras, e a iminência delas, e os tetos de gastos dos dois maiores países das Américas.

O ano mal começou no Brasil, já que o carnaval ainda está por vir, mas ainda há tempo para se chamar atenção para cinco riscos que certamente estarão na mesa dos analistas em 2023.


Risco 1: O Debt Ceiling nos Estados Unidos

Mais uma vez os Estados Unidos atingiram o limite da dívida estipulado em lei. Usualmente o que acaba por ocorrer é o aumento do teto, como em 2021. Entretanto, por ser um processo eminentemente político, o trâmite tem o seu rito próprio e depende do entendimento entre Governo Americano e o presidente da Câmara, chamado de “Speaker”.

Ao contrário do que aconteceu em 2021, a Câmara, agora controlada pelos Republicanos, promete dificultar a vida do Governo Biden exigindo, como contrapartida ao aumento do limite da dívida, um reajuste fiscal para colocar gastos de alguns programas do governo em uma “trajetória sustentável” - nas palavras do Presidente da Câmara, Senador Kevin McCarthy.

Sendo o dólar uma reserva de valor e o principal meio de pagamentos mundial, um calote da dívida americana teria impactos sem precedentes no sistema financeiro global. Dessa forma, parece pouco provável que tanto os Democratas quanto os Republicanos permitam que a situação chegue nesse nível.


Entretanto, quando se fala de discussão sobre o Debt Ceiling, o fato mais recente e que teve maior impacto no mercado foi em 2011, durante o governo Obama. Neste episódio, o shutdown do governo levou a um rebaixamento do score de crédito do próprio governo americano. Curiosamente, por se tratar da reserva global de valor, o rebaixamento levou a uma corrida pelo dólar e para ativos americanos, na medida em que o temor de que o resto do mundo estivesse numa situação ainda pior tomava conta dentre os investidores.


Antes de chegar ao nível de apagão da máquina pública americana, o Tesouro americano vai lançar mão das chamadas medidas extraordinárias para manter o governo funcionando até que o impasse se resolva. Dentre as medidas, o governo posterga a entrega de títulos que seriam alocados em fundos de pensão públicos para gerar mais caixa no Tesouro. A partir daí, o governo vai gastando o caixa até exauri-lo. Segundo a secretária do Tesouro, Janet Yellen, as medidas extraordinárias devem manter o governo funcionando até junho de 2023.


Risco 2: Invasão de Taiwan pela China.

A escalada das tensões entre China e Estados Unidos, juntamente com uma crescente insatisfação doméstica na China, pode levar a uma intervenção militar chinesa sobre Taiwan. A pequena ilha situada ao largo da costa chinesa se destacou no mapa mundi ao se firmar como monopolista na produção de semicondutores, peças fundamentais para os eletrônicos que permitem o bom funcionamento da vida diária.

Os recentes embargos americanos à exportação de tecnologia para a China e a nova parceria entre Estados Unidos e Índia para promover o desenvolvimento tecnológico pode também aumentar a relevância estratégica do know-how que habita a ilha.

O encontro entre Blinken e Xi Jinping que já havia sido combinado foi suspenso devido ao recente incidente envolvendo um balão chinês sobrevoando instalações militares americanas. Mesmo que não ocorra um confronto direto, a tensão entre as duas maiores potências globais deve continuar acirrada ao longo da próxima década.


Risco 3: Escalada do conflito Rússia-Ucrânia.

O fim do inverno no hemisfério norte deve acirrar a retomada das batalhas no front ucraniano. O fracasso russo na conquista de Kiev em poucos dias não parece ter sido o suficiente para retirar Putin do poder, ou até mesmo fazê-lo mudar de postura. Ao mesmo tempo que a Rússia parece pouco disposta a recuar, o Ocidente impulsionado pela resistência heroica dos ucranianos parece, de maneira inconsequente, determinado a buscar uma humilhação russa. Ouve-se pelos palanques, como o da Primeira-Ministra finlandesa, que a guerra só irá acabar quando a Rússia devolver todos os territórios ocupados, inclusive a Crimeia.

A ideia se mostrou mais que mera retórica quando o Ocidente anunciou o envio de tanques de última geração para o governo ucraniano. Após certa hesitação alemã, os ucranianos receberam os tanques Abrams americanos e os Leopard alemães. Duas máquinas que podem, de fato, mudar o rumo da guerra.

Ao mesmo tempo, matéria recente do Financial Times destaca que, apesar do apoio inicial, até mesmo o governo chinês ficou surpreso com a invasão russa, pois Moscou havia assegurado que a Rússia não buscaria um confronto aberto. O especialista em Rússia no partido comunista chinês caiu em ostracismo burocrático e a China desde então tem adotado uma postura mais distante em relação à Rússia. O incidente mostra, porém, que há poucos meios de interlocução efetivos com o Kremlin, mesmo que a China se mostrasse disposta a negociar a paz. Se a ofensiva ucraniana começar a surtir o efeito desejado, há o risco do Kremlin retaliar escalando o conflito, usando até mesmo armas nucleares.


Risco 4: OPEC e market power.

Os sucessivos choques experimentados em 2022 ao redor do mundo geraram um ciclo de alta no preço do petróleo que, por sua vez, levou a uma escalada inflacionária global, principalmente nos países desenvolvidos.

Em reação ao aumento súbito de preços e a rápida perda de popularidade, o governo Biden autorizou a liberação de 250 milhões de barris de petróleo da reserva estratégica americana. Segundo as estimativas do Tesouro americano, isso contribuiu para a redução de 40 centavos no preço da gasolina. Entretanto, a reserva retornou aos patamares da década de 1980 e o governo se prepara para repô-la. Em ofício recente, o Departamento de Energia americano pediu ao Congresso o cancelamento da venda de barris já provisionada para o ano de 2023.

Ao mesmo tempo, os países ocidentais aumentam sua ofensiva contra a produção russa. No começo de fevereiro de 2023, os países do G7 impuseram um teto de preço sobre os refinados de petróleo russos. Segundo especialistas, há uma menor chance de a Rússia conseguir burlar essa restrição uma vez que China e Índia, os maiores compradores de petróleo cru russo desde a imposição do teto de preços, possuem refinarias próprias e, portanto, não teriam interesse em comprar refinados do país. Além disso, há menos navios capacitados a fazer o transporte de refinados de petróleo e a maior parte deles opera sob bandeiras ocidentais.


Risco 5: A volta do desenvolvimentismo brasileiro.

Finalizada a posse do governo Lula, o primeiro mês de governo foi marcado por um ataque incessante às mudanças estruturais elaboradas pelos governos Temer e Bolsonaro. Muito se antecipava a discussão acerca do novo regime fiscal brasileiro, que deverá acontecer no meio do ano. Porém a primeira vítima da doutrina desenvolvimentista tem sido a independência do Banco Central.


Em declarações recentes, o presidente Lula criticou a independência do Banco Central. Ao mesmo tempo, a Presidente do PT, Gleisi Hoffman, afirmou que é impossível o país crescer com uma taxa de juros tão alta. O atual ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ficou surpreso ao saber da manutenção da taxa de juros em seu patamar atual na última decisão do Comitê de Política Monetária (COPOM), ocorrida no dia primeiro de fevereiro. Três faces de uma mesma ideologia que entende como absurda a ideia de que um Banco Central tenha e aja de maneira contrária à política de governo.


O atual presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, possui mais dois anos de mandato estipulados em lei. Entretanto, a própria lei afirma que caso haja “recorrente incapacidade de cumprir com os objetivos” do Banco Central, isto é, descumprir a meta de inflação, o governo pode pedir ao Congresso a destituição dele. Vale lembrar que Campos Neto já perdeu, por duas vezes, a meta de inflação, o que abre argumento jurídico para destituí-lo.


As falas sobre o Banco Central têm conseguido ofuscar um outro ponto sensível do novo governo: a discussão sobre o novo arcabouço fiscal. Desde a campanha, Lula e seus aliados não pouparam críticas ao atual Teto de Gastos. Entretanto, o Teto de Gastos é responsável por ancorar as expectativas sobre a trajetória do endividamento brasileiro. Apenas removê-lo sem colocar outra âncora no lugar parece impossível. Ao mesmo tempo, uma regra que não seja restritiva e não impeça gastos excessivos por parte do governo tampouco servirá para ancorar as expectativas.


Ambas as discussões terão profundo impacto sobre a precificação dos ativos brasileiros e sobre a capacidade do governo de se financiar. Além disso, enquanto o Banco Central for independente, podemos dizer que uma política fiscal expansionista petista será combatida com mais juros e, consequentemente, menos crescimento. Aumento de impostos para suprir novos gastos também pode gerar fuga de capital pressionando a taxa de câmbio e gerando um aperto monetário ainda maior por parte de Campos Neto. A ambição desenvolvimentista esbarra na independência do Banco Central.

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