
A Campanha da Fraternidade, ao propor um engajamento social durante a Quaresma, manifesta uma inversão perigosa que compromete a essência deste tempo litúrgico. A Quaresma, intrinsecamente ligada à conversão pessoal e à busca por Deus, é instrumentalizada para agendas sociais e políticas, desviando o fiel da contemplação do mistério pascal e da imprescindível transformação interior.
A doutrina católica, fundamentada na Sagrada Escritura e na Tradição, estabelece a Quaresma como um período de oração, jejum e esmola. Estas práticas, longe de serem meros rituais, são ferramentas poderosas para purificar o espírito, fortalecer a vontade e aproximar-nos de Deus. Ao negligenciar estas práticas, a Campanha da Fraternidade priva os fiéis dos meios para a santificação.
A crítica não se dirige à caridade ou à justiça social, mas à sua apresentação e priorização. A verdadeira caridade emana de um coração transformado pela graça divina, não de ideologias ou interesses políticos. A justiça social deve ser buscada sob a luz da Doutrina Social da Igreja, que coloca a dignidade humana como centro de todas as questões.
A expressão "conversão ecológica", frequentemente utilizada, merece um exame mais profundo. Se entendida como um chamado à responsabilidade e ao cuidado com a criação, ela pode ser legítima. No entanto, quando essa "conversão" se torna uma obsessão ideológica, que diviniza a natureza e a coloca acima do ser humano, ela se torna uma heresia. A "conversão ecológica" não pode ser um pretexto para atacar o agronegócio, para impor agendas políticas ou para relativizar a fé cristã.
A Campanha da Fraternidade, ao adotar essa linguagem ambígua, corre o risco de induzir os fiéis ao erro e de desviar a sua atenção do verdadeiro objetivo da Quaresma, que é a conversão do coração. A Quaresma não é um tempo para defender causas políticas ou para promover ideologias ambientalistas. É um tempo para reconhecer os nossos pecados, para pedir perdão a Deus e para renovar o nosso compromisso com o Evangelho.
Exemplos de desvirtuamento doutrinal tornam-se evidentes quando discursos simplistas e maniqueístas demonizam setores importantes da sociedade, como o agronegócio, ignorando a complexidade da realidade e a diversidade de práticas existentes. A generalização de críticas e a promoção de visões ideológicas reducionistas geram divisão e animosidade, em vez de promover a justiça e a fraternidade. Essa abordagem dicotômica impede um diálogo construtivo e uma busca genuína por soluções que beneficiem a todos, obscurecendo a necessidade de discernimento e de reconhecimento da dignidade humana em todas as esferas da atividade econômica.
Outro exemplo é a divinização da terra e da natureza, que se manifesta em discursos que colocam a ecologia acima da dignidade humana. A criação é um dom de Deus, e devemos cuidar dela com responsabilidade, mas não podemos idolatrá-la ou colocá-la acima do ser humano, que é a imagem e semelhança de Deus.
Portanto, a Campanha da Fraternidade deve recentrar-se na dimensão espiritual da Quaresma, convidando os fiéis a uma profunda conversão interior e a uma busca sincera por Deus. A caridade e a justiça social devem ser uma consequência dessa conversão, e não o contrário. A doutrina católica deve ser o guia de todas as ações e reflexões da Campanha da Fraternidade, para que ela seja um instrumento de evangelização e de santificação.
A Quaresma é um tempo de graça e renovação espiritual, e a Campanha da Fraternidade deve ser um instrumento para ajudar os fiéis a trilharem esse caminho, e não para desviá-los dele. A defesa da doutrina e a exaltação da dimensão espiritual são os pilares que devem sustentar a Campanha da Fraternidade, para que ela cumpra a sua missão de evangelizar e de transformar o mundo à luz do Evangelho.

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