Crime humanitário e o silêncio da CNBB
- Carlos Dias
- 24 de abr.
- 3 min de leitura
Atualizado: 25 de abr.

O afastamento do presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, após a Operação "Sem Desconto" da Polícia Federal, revela mais um capítulo sombrio na história da corrupção no Brasil. Um esquema criminoso que desviou aproximadamente R$ 6,3 bilhões por meio de descontos indevidos em aposentadorias e pensões representa não apenas um crime financeiro, mas uma verdadeira agressão humanitária contra os idosos e pensionistas brasileiros.
Esta fraude bilionária atinge diretamente pessoas em situação de vulnerabilidade – aqueles que construíram o país com seu trabalho honesto e hoje dependem do Estado para viver com dignidade. Cada centavo desviado significa remédios não comprados, tratamentos adiados, necessidades básicas não atendidas. Estamos diante de uma violência silenciosa, mas de efeitos devastadores.
A história da corrupção político-administrativa no Brasil tem um protagonista recorrente: o Partido dos Trabalhadores. Durante os governos petistas, presenciamos uma sequência ininterrupta de esquemas que sangram os cofres públicos. Do Mensalão ao Petrolão, da Operação Lava Jato aos desvios em fundos de pensão, o modus operandi permaneceu inalterado – usar a máquina pública como instrumento de enriquecimento pessoal e financiamento político.
O que torna essa realidade ainda mais perversa é a contradição entre o discurso e a prática. Enquanto se apresentava como defensor dos pobres e trabalhadores, o PT orquestrou os maiores esquemas de corrupção da história recente do país, esvaziando justamente os recursos que deveriam ser direcionados às políticas sociais. A estimativa é que os valores desviados durante os governos petistas ultrapassem centenas de bilhões de reais – montante que poderia ter transformado radicalmente a realidade da saúde, educação e seguridade social no Brasil.
Na perspectiva cristã, especialmente à luz da Doutrina Social da Igreja Católica, tal conduta representa uma grave violação dos princípios de justiça e solidariedade. A corrupção sistemática destrói o tecido social, deteriora a confiança nas instituições e, sobretudo, condena os mais vulneráveis a uma vida de ainda maiores privações. Quando atinge sistemas de proteção social, como no caso do INSS, configura-se como um ataque direto à dignidade humana.
Neste cenário de deterioração moral e institucional, causa profunda preocupação o silêncio de instituições que deveriam ser esteio na defesa da ética e da justiça. É mandatório que a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), cuja cúpula dirigente tem mantido uma postura de incompreensível reserva diante da degradação sistemática do patrimônio público e moral sob o governo Lula, retome com vigor sua missão profética. Uma instituição que historicamente se posicionou em defesa dos oprimidos não pode permanecer indiferente quando bilhões são subtraídos daqueles que mais necessitam de amparo.
O caso do INSS é emblemático: milhares de aposentados e pensionistas tiveram descontos não autorizados aplicados em seus benefícios. Pessoas que já vivem com recursos limitados foram ainda mais penalizadas por um esquema criminoso que operava nas entranhas do próprio instituto responsável por sua proteção. Enquanto isso, vozes que deveriam ecoar em defesa dessas vítimas mantêm-se em um silêncio que beira a conivência.
A Doutrina Social da Igreja é clara quando afirma que a omissão diante da injustiça é, em si mesma, uma forma de participação no mal. Quando lideranças eclesiásticas se abstêm de denunciar claramente atos de corrupção sistemática, especialmente aqueles que vitimizam os mais vulneráveis, compromete-se não apenas a credibilidade da instituição, mas sua própria missão evangelizadora.
Esperamos, portanto, que a cúpula da CNBB recobre seu compromisso fundamental com a defesa intransigente da vida, da dignidade humana e da moralidade pública, erguendo-se como voz profética contra a corrupção que destrói as estruturas sociais e condena milhões de brasileiros ao sofrimento. Seu testemunho é essencial não apenas para os fiéis católicos, mas para toda a sociedade que anseia por referências éticas sólidas em tempos de relativismo moral.
Se queremos construir um Brasil verdadeiramente justo e solidário, precisamos confrontar essas estruturas de corrupção com firmeza e determinação. Isso significa punir exemplarmente os responsáveis, recuperar os valores desviados e, principalmente, implementar mecanismos eficazes de controle e transparência na gestão pública.
A luta contra a corrupção é, essencialmente, uma luta pela vida e pela dignidade dos mais vulneráveis. Quando entendemos a corrupção como um crime humanitário, percebemos que seu combate não é apenas uma questão de legalidade, mas de profunda compaixão e compromisso com o bem comum – valores fundamentais que jamais deveriam ser negociados em nome de interesses políticos, ideológicos ou de falsas teologias.
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