Ministro da Fazenda insiste em previsões "otimistas", enquanto Brasil enfrenta desafios estruturais e incertezas econômicas
Em mais uma demonstração de otimismo questionável, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou nesta segunda-feira que o governo poderá revisar novamente a projeção de crescimento do PIB para 2024. Durante o evento Macro Day, do Itaú BBA, Haddad reforçou que a nova estimativa do governo, que já foi ajustada de 2,5% para 3,2% em setembro, pode ser revista para cima, ignorando os obstáculos evidentes que o Brasil ainda enfrenta. Ainda sim, é válido ressaltar que um crescimento em torno de 3,2% do PIB para um país com o potencial do Brasil, deve ser considerado quase estagnação.
Essa postura, no entanto, contrasta com a realidade econômica do país. A contínua revisão para cima do crescimento parece mais uma tentativa de inflar expectativas do que um reflexo de uma base sólida de recuperação. Haddad justificou seu otimismo com "surpresas positivas na atividade" e uma possível contenção da inflação, mesmo após uma série de choques, como a crise hídrica e o desastre no Rio Grande do Sul.
Embora tenha mencionado que o governo pretende “calibrar e restringir despesas públicas” para garantir o crescimento sustentado, o discurso pouco aborda a falta de reformas estruturais e a dependência cada vez maior de políticas de curto prazo para manter o controle sobre a inflação e os gastos públicos. O recente aumento na previsão de crescimento parece mais baseado em uma visão politicamente conveniente do que em fundamentos econômicos consistentes.
Haddad também classificou como "irracional" o Tesouro Nacional pagar taxas reais de 6,5% a 7% para remunerar investidores, mas essa situação reflete a falta de credibilidade do governo em relação ao controle fiscal e à inflação. O país ainda enfrenta um déficit fiscal significativo, e a "inflação relativamente comportada" mencionada pelo ministro não é suficiente para justificar um ambiente de otimismo tão acentuado.
Além disso, as compensações propostas para a desoneração da folha de empresas não serão suficientes, segundo o próprio ministro, para cumprir a decisão do STF, o que tende a gerar mais debates com o Congresso. Isso levanta dúvidas sobre a capacidade do governo de lidar com essas demandas sem sobrecarregar ainda mais o orçamento público.
Enquanto Haddad fala em "boas surpresas" para o próximo ano, a realidade é que, sem uma reforma estrutural robusta e um compromisso sério com a responsabilidade fiscal, essas surpresas podem acabar sendo mais desilusões para a economia brasileira.
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