O declínio da influência cristã e a transformação da identidade ocidental
- Carlos Dias
- 13 de jan.
- 3 min de leitura

Neste fim de semana tive contato com um áudio e um texto exemplarmente elaborados por Gil Reis, que além de exímio consultor do agronegócio, possui formação moldada pela cultura clássica. O texto de Gil Reis publicado na Gazeta do Amapá -
https://agazetadoamapa.com.br/colunista/o-cristianismo-nao-pode-morrer/ , me provocou a escrever algo que denomino como uma conversa entre textos. Então, vamos lá!
O declínio da influência cristã no Ocidente é um fenômeno complexo que tem profundas implicações para a identidade ocidental contemporânea. Este processo, conhecido como secularização, não é meramente uma diminuição da prática religiosa, mas uma transformação fundamental na forma como a sociedade ocidental se entende e se organiza.
Historicamente, o cristianismo forneceu não apenas um sistema de crenças, mas também um arcabouço moral e ético que permeava todas as esferas da vida social, política e cultural. Essencialmente, o cristianismo se distingue por sua natureza única, que transcende o meramente humano: é uma fé que afirma a união do divino e do humano na pessoa de Jesus Cristo. Esta dualidade intrínseca confere ao cristianismo uma profundidade e ressonância incomparáveis na experiência humana, tornando-o um pilar fundamental da civilização ocidental que não pode ser de maneira alguma substituído sem consequências significativas para o indivíduo e a sociedade como um todo.
Com o advento do Iluminismo e o subsequente desenvolvimento do pensamento científico e filosófico moderno, iniciou-se um processo gradual de desencantamento do mundo, como descrito pelo sociólogo Max Weber. Este desencantamento levou a uma crescente separação entre as esferas secular e religiosa, culminando no que Charles Taylor chama de "era secular". Neste contexto, a religião deixou de ser o principal referencial para a construção de significado e identidade coletiva, abrindo espaço para novas narrativas e ideologias.
O vácuo deixado pelo afastamento das tradições religiosas não permaneceu vazio por muito tempo. Diversas ideologias seculares emergiram para preencher este espaço, oferecendo novos sistemas de valores e significados. O nacionalismo, o capitalismo, o socialismo e, mais recentemente, o ambientalismo e várias formas de identitarismo, podem ser vistos como tentativas de fornecer uma narrativa coerente e um senso de propósito coletivo em um mundo cada vez mais secularizado.
Entretanto, estas novas ideologias frequentemente carecem da profundidade histórica, da coesão social e, fundamentalmente, da dimensão transcendental que o cristianismo proporcionava. A ausência desta dimensão divino-humana resulta em uma fragmentação da identidade ocidental, com diferentes grupos aderindo a diferentes sistemas de valores, muitas vezes conflitantes entre si, e incapazes de abordar plenamente as questões essenciais da existência humana.
Esta transformação levanta questões importantes sobre a natureza da identidade ocidental contemporânea. Pode o Ocidente manter sua coesão cultural e seus valores fundamentais na ausência de um referencial religioso compartilhado que une o humano e o divino? Como as sociedades ocidentais podem negociar as tensões entre diferentes visões de mundo em um contexto cada vez mais pluralista, sem perder de vista a dimensão transcendental da existência humana?
A resposta a estas questões moldarão o futuro da civilização ocidental. O desafio reside em reconhecer a insubstituível contribuição do cristianismo para a formação da identidade ocidental, ao mesmo tempo em que se busca preservar seus valores fundamentais de liberdade, dignidade humana e progresso social em um mundo de crescente secularização.
Ignorar a natureza dual do cristianismo e sua profunda influência na formação do Ocidente pode levar a formas mais fragmentadas e potencialmente autoritárias de organização social, desprovidas da profundidade e do significado que apenas uma visão que integra o humano e o divino pode proporcionar.
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