Prudência

“Tende muito cuidado com o que ouvis” (Mc, 4/24).
Em tempos escatológicos de luta pelo domínio da opinião pública, a vítima principal é a verdade. Sendo a propaganda a alma do negócio, dela se serve o marketing político, sem qualquer escrúpulo, para vender o bem pelo mal e vice-versa, em função do interesse do patrocinador. Por isso, a sugestão divina à prudência permanece viva e atual, como escudo de defesa seguro.
O condicionamento imposto pelos hábitos modernos estimula a massificação dos costumes. Os intelectuais e artistas, na condição de admirados e imitados, agem como catalisadores vivos da opinião pública. Seus pontos de vista constituem importante filão para os marqueteiros, que se esmeram em explorá-los, em proveito do projeto de domínio dos seus contratantes. Por seu potencial na mobilização de massas, também, são alvos prioritários dos movimentos ideológicos, para se converterem em ideólogos e intelectuais orgânicos.
No simplismo de uma visão mercadológica, intelectual é a pessoa instruída que consegue sucesso em vender um produto cognitivo ou cultural. Suas teses são, necessariamente, inteligentes e persuasivas, mesmo quando impregnadas de má fé. Assim, as opiniões de intelectuais merecem passar pelo filtro de Rousseau: “A educação não faz com que o homem seja bom, mas apenas com que fique esperto – em geral para o mal. O instinto e o sentimento são mais confiáveis do que a razão”.
A arte, por sua vez, é como o sal da terra. Sem ela, a vida seria insípida e monótona, um deserto de beleza. No universo das relações, o artista ocupa uma função social proeminente. O público, porém, não se engane. Em O Espírito na Arte e na Ciência, o Dr. Carl Gustav Jung provou que o artista é um ser coletivo, que transporta e plasma a alma inconsciente e ativa da humanidade: “A arte é uma expressão do arquétipo, um dom inato, uma espécie de instinto que domina o artista, fazendo dele o seu instrumento”. Porém, ressalvou: “O impulso criativo é inconsciente, mas arrebata a maior parte da energia mental da consciência, sobrando muito pouco para o restante”. Assim, quanto mais talentoso é o artista, menor a sua disponibilidade de energia mental para o discernimento da realidade exterior à sua predileção.
O exemplo citado por Jung foi peremptório no caso concreto de um ícone da esquerda, objeto da sua pesquisa: “Picasso pertencia ao grupo dos meus pacientes esquizofrênicos, que se caracterizam pela fragmentação das ideias”.
Portanto, antes de se adotar a opinião de um intelectual ou artista famoso, é prudente refletir com atenção sobre o mérito, sobretudo, quando fala de assunto estranho à sua especialidade.
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