Homenagem: Quando Silvio Santos ameaçou o sistema nas eleições de 89
- Instituto Democracia e Liberdade
- 19 de ago. de 2024
- 3 min de leitura
Em tributo ao maior apresentador da história da TV, o Rumo Econômico resgata a trajetória de Silvio Santos na corrida presidencial

Em 16 de março de 1990 - dois meses após a posse de Fernando Collor de Mello no retorno do brasileiro às urnas - a ministra da Fazenda, Zélia Cardoso de Mello, anunciou um pacote-bomba, que determinou o confisco do equivalente a US$ 100 bilhões das contas de caderneta poupança e investimentos dos cidadãos.
Junto à medida radical, destinada, segundo o autointitulado "Caçador de Marajás" a conter uma inflação mensal de 84%, o novo presidente demitiu, em seguida, cerca de 81 mil servidores, congelou preços por 45 dias e, de quebra, encerrou as operações de 24 estatais federais.
"Não temos mais alternativas. O Brasil não aceita mais derrotas. Agora, é vencer ou vencer. Que Deus nos ajude" - declarou um aparentemente convicto Collor, ao acionar aquela verdadeira “bomba atômica” econômica.
Agora, esqueça por um momento o desastre do Plano Collor e vamos voltar um pouco mais no tempo. Imagine se o vencedor das eleições presidenciais de 1989 não tivesse sido Fernando Collor, mas o maior apresentador e comunicador brasileiro de todos os tempos. Será que o Brasil seria o mesmo, caso Senor Abravanel - o eterno Silvio Santos - tivesse confirmado seu favoritismo ao Palácio do Planalto nas eleições de 1989?
Então candidato pelo minúsculo PMB (Partido Municipalista Brasileiro), Silvio Santos - que nos deixou no último sábado (17) aos 93 anos - decidiu entrar na corrida eleitoral aos “45 do segundo tempo”. Depois de tentar (em vão) participar da disputa pelo PFL (Partido da Frente Liberal), a única saída foi encontrar um espaço na pequena legenda, no lugar de Armando Corrêa, que aceitou deixar sua vaga para o dono do SBT, a poucos dias do embate.
Em 31 de outubro de 1989, o Tribunal Superior Eleitoral aceitou a mudança, mas com uma peculiaridade: com as cédulas de papel já impressas, Silvio precisou usar seu espaço no horário político para “ensinar” os eleitores que ele deveria fazer o x no nome de Corrêa, já que não haveria tempo para incluir o quadradinho de Silvio Santos nº 26.
Silvio Santos a mira dos rivais

Sem qualquer surpresa, o mero anúncio da entrada de Silvio Santos na disputa, atiçou os milhões de amigos de casa e colegas de trabalho que idolatravam o carioca da Lapa, então com quase 59 anos, a definir seu favorito para as eleições de 15 de novembro.
O próprio site oficial do TSE indicava no final de outubro que 30% do eleitorado, segundo pesquisa IBOPE, queriam o Patrão como presidente da república, deixando para trás os rivais Fernando Collor de Mello (PRN), Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Paulo Maluf (PDS) e Leonel Brizola (PDT).
Novamente, para surpresa de quase ninguém, a reação do establishment foi imediata. A poucos dias do 1º turno, 18 ações pipocaram no TSE contra a participação do dono do Baú da Felicidade no processo “democrático”.
Além de apontarem irregularidades de seu partido, o PMB, os reclamantes conseguiram convencer os ministros do TSE a cumprirem sua missão de tirar Silvio Santos do jogo.
“A Procuradoria-Geral Eleitoral embasou seu parecer na inviabilidade da candidatura de Silvio Santos, com base no artigo 1º, II, d , da Lei Complementar nº 5/70, que estabelecia serem inelegíveis os candidatos a presidente que tivessem exercido, nos seis meses anteriores ao pleito, cargo ou função de direção, administração ou representação em empresas concessionárias ou permissionárias de serviço público ou sujeitas a seu controle”, escreveu o Tribunal, ao definir em 7 de novembro - 8 dias apenas do dia de votação - a impugnação do lendário apresentador pelo acachapante placar de 7 votos a 0.
Em sua primeira disputa ao cargo de presidente, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) reagiu com alegria à decisão do hoje, mais parceiro do que nunca, TSE.
“O TSE moralizou a campanha eleitoral ao impugnar a candidatura de Silvio Santos”, declarou o petista em 10 de novembro daquele ano. “A decisão foi correta, pois o candidato desmoraliza o processo eleitoral com a compra da legenda”, atacou Lula.
Ainda relutante, Silvio Santos afirmou ao saber da decisão da corte eleitoral que não havia desistido de um dia se candidatar ao cargo máximo do Executivo.
“Eu tenho qualidade para servir o povo. Para governar o país. Para governar o país, o homem precisa ser sensato (...) O dia que eu for presidente, farei uma boa administração”, prometeu.
Quase 36 anos após a declaração realizada em uma entrevista coletiva de 35 minutos, em São Paulo, nunca poderemos saber se isso aconteceria. Com a despedida de Silvio Santos, no entanto, descobrimos que sua jornada de mais de 60 anos no mundo empresarial e do entretenimento foi bem além de qualquer cargo político.
--
Leia todas as nossas matérias integralmente.
Assine o Rumo Econômico no link abaixo:
Comentários