A tradicional emissora Jovem Pan chegou perto, mas nunca foi uma emissora 100% defensora dos valores conservadores

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Nos quatro anos que antecederam a volta ao poder de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao Planalto, os brasileiros se acostumaram a sintonizar nos canais da Rádio Panamericana S.A - a tradicional Jovem Pan - e adotar a emissora fundada em 1944 por Antônio Augusto Amaral de Carvalho como um porto seguro do conservadorismo na mídia tradicional.
De fato, além de “seguro”, o porto aparentava ser o único refúgio para os espectadores cansados das ofertas encontradas na TV aberta. O auge da popularidade da Jovem Pan, entretanto, coincidiu com o princípio de sua queda - e consequente, perda de audiência nos programas jornalísticos.
Mas antes de contar a história de ascensão e queda do grupo, não podemos deixar escapar a chance de revelar como a própria Pan se destacou no mainstream graças ao espaço deixado pelo inigualável Terça Livre - exemplo de pioneirismo em jornalismo independente.
A entrada em cena da programação "mais conservadora" da Jovem Pan só foi possível pelo verdadeiro Mar Vermelho aberto pelo Terça Livre, quando - sem qualquer chance de defesa - o Supremo Tribunal Federal dizimou o canal, usando apenas uma "inofensiva" caneta.
Essa onda autoritária do STF levou consigo milhões de visualizações diárias do canal que ousou ultrapassar em audiência as grandes corporações de mídia, em uma programação diária de 4 horas de duração - e apenas tendo o YouTube como arma.
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De volta para o futuro, a derrocada da Pan não começou com a cassada promovida por agentes canceladores da direita como o Sleeping Giants (que causou a perda de 50 patrocinadores) ou da ameaça do Ministério Público de tirar a licença da emissora.
Os sinais de que a empresa havia perdido o rumo - ou, ao menos, a verve conservadora - apareceram no desmembramento contínuo do Pingo nos Is, capitaneado por Augusto Nunes.
O programa de opiniões - que antes contava com carta branca da direção - chegou a superar os 10,5 milhões de visualizações no YouTube, além de atropelar a concorrência na TV fechada. A marca quebrada em 2021 não foi suficiente para manter o time titular por muito mais tempo no ar.
Como efeito dominó, após a demissão de Nunes em 31 de outubro de 2022 (não por coincidência, no da da vitória de Lula nas eleições), deixaram em sequência o Pingo Nos Is a composição “casca grossa” da atração, composta por Ana Paula Henkel e Guilherme Fiuza.
A censura que tomou conta dos corredores da Jovem Pan não afetaram apenas seu carro-chefe jornalístico. Aos poucos, programas como o humorístico Pânico, além do Morning Show e o novíssimo Tá Na Roda foram sendo desmembrados e desfigurados.
Portanto, em 2023, a Jovem Pan, já não aparentava nem um pouco com a emissora que prometia defender os conservadores, competindo lado a lado com CNN e GloboNews.
Jovem Pan se ajoelhou para o governo Lula em 2023
No decorrer do ano passado, os consumidores de conteúdo que ainda sintonizava a Jovem Pan, seja no rádio, TV ou YouTube, já não eram mais os mesmos que levaram os canais da companhia aos trending topics mundiais. Motivos para essa metamorfose não faltaram - e atravessaram o reveillon para comprovar esse balanço trágico.
Em 30 de novembro passado, um dos momentos mais constrangedores da história da emissora paulistana se concretizou durante a transmissão do Linha de Frente - programa de debates, aliás, que nunca excluiu comentaristas de esquerda da bancada.
Ao abrir os trabalhos daquela tarde, o apresentador Fernando Capez usou os primeiros minutos da atração para implorar o perdão do então ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino. Capez apenas atendeu aos apelos da direção, que não gostou nada da brincadeira feita pela conceituada Paula Schmitt no dia anterior.
"Ontem, aqui no "Linha de Frente", uma convidada que tinha vindo pela primeira vez participar do programa, fez um comentário inadequado, chegou a ser, inclusive, preconceituoso. Acima de tudo, inadequado, desnecessário e que em nada contribui para o debate sobre a pessoa do Ministro Flávio Dino. Por isso, eu quero aqui, em meu nome e em nome do Grupo Jovem Pan, me desculpar com Flávio Dino”, declarou.
Como se não bastasse o “momento vergonha alheia” de uma emissora que faz questão de se desvincular das opiniões de seus comentaristas (antes de todas as atrações, o grupo afirma que não compactua com os comentários de ninguém), outro funcionário da casa, o advogado Nelson Kobayashi, desfilou toda sua subserviência ao elogiar a escolha do ex-ministro do STF, Ricardo Lewandowski, para a vaga de Flávio Dino no Ministério da Justiça.
Amigo particular de Lula e autor de decisões 100% favoráveis aos governos petistas através dos tempos, Lewandowski chegou a assumir o posto de advogado do grupo J&F dos irmãos Batista, mesmo tendo julgado processos ligados aos empresários no Supremo.
“Lula divide opiniões, mas acerta ao escolher Lewandowski para o ministério da Justiça”, cravou.
Não existem mais “meio entendedores” na relação da Jovem Pan com o governo Lula.
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