O PT no Banco Central
- Carlos Dias
- 19 de jun.
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A recente elevação de 0,25% da Selic para 15,00% a.a. pelo Copom, em meio a um cenário de inflação persistente e desequilíbrio fiscal, revela fortes inconsistências.
Há um descompasso entre o diagnóstico e a ação. O Copom reconhece expectativas desancoradas (5,2% para 2025, 4,5% para 2026, ambas acima da meta de 3%), inflação cheia e subjacente elevadas, atividade econômica dinâmica e a necessidade de política monetária "significativamente contracionista por período prolongado". Contudo, a resposta foi extremamente modesta, com sinalização de possível pausa, comprometendo a credibilidade do regime de metas. A projeção do próprio Copom de 3,6% para 2026 também supera o centro da meta.
A análise fiscal é superficial. O comunicado menciona o acompanhamento, mas a decisão não parece incorporar o impacto de déficit, dívida crescente e ausência de medidas estruturais que pressionam expectativas.
Riscos inflacionários são subestimados. A decisão minimiza o efeito da política fiscal expansionista sobre câmbio e expectativas, subestima também a inércia da inflação de serviços (ligada ao mercado de trabalho aquecido) e ignora o efeito direto da depreciação cambial.
A sinalização de interrupção da elevação dos juros internos é prematura, dada a trajetória ascendente das expectativas e o cenário fiscal. Comparado a ciclos anteriores, o Banco Central demonstra maior tolerância à inflação, menor independência e desconsidera gravemente os custos de credibilidade a longo prazo.
As implicações são sérias: prêmios de risco e juros futuros elevados por mais tempo, pressão cambial persistente realimentando a inflação e o risco de desancoragem profunda, podendo gerar espiral inflacionária. A própria política monetária, ao hesitar, pode aumentar seu custo fiscal futuro.
A decisão se mostra inconsistente com o cenário. Uma abordagem prudente exigiria elevação maior, comunicação firme e reconhecimento dos riscos fiscais. A história mostra que hesitar contra a inflação aumenta os custos futuros para a economia e a sociedade.
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