Operação boi na linha: Banco Master e o grupo J&F
- Carlos Dias
- há 4 horas
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Em meio a um cenário econômico que exige cada vez mais transparência nas operações financeiras, surge uma transação no mínimo controversa envolvendo o Banco Master, o BRB e o grupo J&F. O empresário Joesley Batista, figura já conhecida nos tribunais brasileiros, agora emerge como potencial comprador de ativos problemáticos do Banco Master, justamente aqueles que ficaram de fora da aquisição pelo banco público de Brasília.
A operação, como se desenha, parece um clássico caso de separação entre "good bank" e "bad bank" – prática conhecida no mercado financeiro. Ao BRB, banco estatal do Distrito Federal, caberia ficar com a parte supostamente saudável da instituição, enquanto Joesley Batista, com seu histórico controverso revelado na Operação Lava Jato, se interessou especificamente pelos títulos de precatórios e pré-precatórios, ativos de recuperação judicial incerta, mas que potencialmente podem render lucros substanciais.
O que verdadeiramente chama atenção neste arranjo é a surpreendente reunião ocorrida entre Joesley Batista e a alta cúpula do Banco Central – incluindo seu presidente, Gabriel Galípolo, e os diretores de Regulação e Fiscalização – em pleno feriado do Dia do Trabalhador. Um encontro em data não oficial, justamente quando se discutem nos bastidores a aquisição de ativos de uma operação bancária sob análise do próprio regulador, é, no mínimo, um atentado à governança e à independência que se espera da autoridade monetária.
A negociação, intermediada pela Latache Capital e seu CEO, Renato Azevedo, desperta ainda mais suspeitas quando se revela que André Esteves, do BTG Pactual, também demonstrou interesse pelos mesmos ativos – o que sugere que estes papéis, apesar de classificados como de "recuperação incerta", podem ter valor estratégico muito maior do que aparentam à primeira vista.
Não se trata aqui de uma simples operação de mercado. Quando um banco público como o BRB assume riscos consideráveis na aquisição de uma instituição privada, enquanto empresários com fortes conexões políticas ficam com ativos específicos de alto potencial de valorização, estamos diante de um arranjo que parece visar interesses que transcendem a lógica econômica. A falta de transparência sobre os valores envolvidos tanto na compra pelo BRB quanto na negociação dos precatórios pela J&F torna o cenário ainda mais nebuloso.
Em tempos de intenso debate sobre responsabilidade fiscal e limites da dívida pública, é imperativo questionar: por que um banco estatal está empenhado em adquirir uma instituição financeira privada? Quais critérios técnicos justificam esta operação? E, mais importante, por que o principal interessado nos ativos mais arriscados consegue uma audiência com o regulador em pleno feriado nacional?
O entrelaçamento entre poder político e econômico que se vislumbra nesta operação compromete princípios básicos da livre concorrência e da eficiente alocação de recursos. A história recente do Brasil já demonstrou, diversas vezes, como estas intersecções obscuras entre o público e o privado resultam em prejuízos consistentes para o erário e benefícios indevidos a grupos específicos.
A operação do BRB para aquisição do Banco Master ainda aguarda aprovação definitiva do Banco Central. Resta saber se a autoridade monetária, após receber Joesley Batista em reunião claramente atípica, manterá a imparcialidade necessária na análise técnica que se espera de um regulador independente, ou se estamos diante de mais um capítulo da crônica brasileira onde decisões de Estado são tomadas para atender interesses particulares.
O sistema financeiro nacional e a estabilidade econômica do país exigem que operações deste porte sejam conduzidas com absoluta transparência e estrita observância das melhores práticas de governança. O que vemos até agora, entretanto, são os velhos fantasmas de um capitalismo de compadrio que insiste em assombrar o desenvolvimento do Brasil.
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