Rota do algodão
A invasão da indústria da moda chinesa de consumo rápido ou fast fashion, com o desembarque da megacadeia de distribuição Shein, e suas promessas de investimento imediato sempre em empresas locais cambaleantes, onde o que mais importa é o CNPJ e suas estruturas de produção.
O crescimento visto na economia chinesa e a elevação dos ganhos dos seus trabalhadores, está ocasionando uma onda inversa na direção da escravidão ou subserviência em condições deploráveis, ou seja, a miséria nos países de onde desembarcam para prover a exploração de seus recursos naturais e o domínio do mercado de consumo.
Cabe destacar, nesse específico contexto, a rota do algodão no mercado têxtil onde se esconde uma realidade muito obscura e não perceptível aos olhos do ocidente, causando uma verdadeira catástrofe humana contemporânea.
Na Índia dos dias de hoje, milhões de homens do campo, vivem exclusivamente do cultivo do algodão como a única alternativa de renda na pequena e insustentável agricultura familiar.
Escondidos aos olhos do mundo ocidental essa atividade, é um túmulo a céu aberto, para centenas de milhares de agricultores, que quando não tombam pela subnutrição ou pelo extremo cansaço, morrem miseravelmente ou cometem suicídios aos milhares por dia.
Na região mais pobre da Índia, essas pessoas, empenham suas existências para ganhos menores que um dólar ao dia. Tais “receitas” se mostram insuficientes para pagar os custos com os agro inseticidas, já banidos do ocidente pelos conhecidos e irreversíveis males, que acometem agricultores em todos os países onde tiveram uso intensivo e descontrolado.
Temos uma peculiaridade a ser observada no momento em que se anuncia a chegada ao Brasil, da grande manufatureira de moda de consumo mais acessível, a preços muito mais baixos, que o regularmente praticado no mercado interno. Essa empresa líder atua fortemente no comércio eletrônico mundial no segmento de fabricação e comercialização de vestuários, reforçando, a preço atraentes para camadas da população, que não têm capacidade financeira para aquisição de produtos em shoppings e em seus departamentos de moda.
O que deve ser visto por um observador mais atento, é a migração das fábricas chinesas para países emergentes e do terceiro mundo, se afastando dos operários chineses que hoje têm ganhos três vezes maiores que os operários brasileiros e quinze vezes de um operário indiano na mesma atividade fabril.
No caso brasileiro estas cadeias chinesas de moda vão competir em um mercado dominado por três ou quatro players tradicionais, que contam com um conjunto de fornecedores de itens e acabamentos produzidos no Brasil. Essa competição, entretanto, ocorre de modo muito desigual, pois as fábricas, ocupadas por uma grande leva de operários chineses muito especializados, trazem do mercado chinês desde agulhas, botões e linhas, até os acabamentos, tal qual produzidos na Índia.
A estratégia fundamental para o avanço de mercado de produtos chineses, além de uma moeda manipulada pelo governo central, está na diferença dos custos arbitrados de produção e a proximidade do mercado consumidor.
Certamente os preços dos produtos chineses, artificialmente estabelecidos, continuarão muito mais acessíveis aos consumidores, do que os fabricados no mercado pelas manufatureiras estabelecidas no Brasil.
Os avanços chineses no setor têxtil, trarão como consequência bem provável a destruição, pela incapacidade de concorrer, em função, destaco, de preços artificialmente arbitrados por uma economia estatal regulada, cujo objetivo é o de destruir a concorrência em um primeiro momento, e em seguida, dominar o mercado pela monopolização.
Comments